a cama reclama
a sua ausência
enquanto eu
no canto
aguardo
sua presença
| tentando descobrir as perguntas fundamentais |
a cama reclama
a sua ausência
enquanto eu
no canto
aguardo
sua presença
o meu querer
querendo querer-te
(ou ter-te)
não quer apenas querer
ele simplesmente é
querendo ou não
te procurei nos dicionários
esbarrei-me em definições
não era você
te procurei em nostradamus
achei resoluções
mas você não era
te procurei no google
encontrei sugestões
era tudo, menos você
te procurei em livros
deparei-me com desejos
desejos distantes de você
te procurei no palheiro
furei-me em agulhas
mas não tinha nada de você
te procurei em outras mulheres
enganei-me reiteradamente
e não era nem de longe você
te procurei em ti mesma
brotaram-me incertezas
agarrei o que pude
mas perdi-me de você
revirei os meus bagulhos
derrubei pincéis canetas cadernos
desviei dos meus caminhos
desisti de papéis metas salários
não ouvi barulho
só silêncio
quando em mim olhei
te achei
perdida em meus cantos
sufocada em minhas expectativas
embrenhada em meus poros
superior a isso isto e aquilo
firme e forte
te agarrei
e não solto!
perante incestuosos obstáculos desviados
ostento as vísceras em um poema
estendendo aos leitores entoação
sozinha e contida em poucos versos
inconstante e de ramificações adversas
alaúde da dor e da lamentação
é a mais pura dicotomia das ideias
indigestas e vomitadas em excesso
sobre páginas e páginas
sobram restos e lamúrias
obliteradas instantaneamente
num complexo emaranhado
de olhares apurados
seu charme
rebate e bate
provoca e toca
induz e seduz
na luz ou na escuridão
ali está
atenta
empurra e puxa
certezas montadas
ou dúvidas impostas
não importa
são devaneios em suas mãos
captura os fracos
em uma tênue linha
de tentação e perfeição
traz a paz
equívocos
refaz loucuras
a complexidade de seus toques
perfaz a média
e evoca forças
sobre os tais
capturados
por fim
poderosamente decidida
põe os pontos nos ís
e aqueles tais
citados outrora
põe em seus locais
longes dali
daqui
e dela
moçoilo
afoito
por desafios
que sou
meto-me
em merdas
mimosamente
o passo passa
e passa o passo
a pressa apressa
aperta o passo
corre corre
não demora
que o tempo
apavora
por favor
presta atenção!
no caminho
a sua frente
muita gente
apressada
corre corre
olha o buzão!
estou puto
atrasado
essa gente
atrapalhada
me atrapalha
encalha encalha
sai da frente!
sua velha!
…
para
respira
…
não me tromba!
quanta gente
empurra empurra
vai no tranco
sem descanso
a fila anda
corre corre
nunca para
nunca para
nunca para
nunca para!
as cortinas se abrem
a plateia titubeia
as luzes se acendem
ela surge
simplesmente surge
do palco a plateia assusta
da plateia o palco encanta
pulos, gritos, tatos, falas
receios, anseios, devaneios
pulos cuidadosos são manobras
gritos entonados são sussurros
tatos delicados são sentidos
falas encenadas são sinceras
receios são temidos
anseios são atingidos
devaneios são inevitáveis
os olhares incautos
se transformam
de obstáculo
em espetáculo
do nada
esgota-se o inesgotável
renova-se o irrenovável
repete-se o irrepetível
questiona-se o inquestionável
resiste-se ao irresistível
ela disse que era impossível
impossível acontecer de novo
de novo assim de repente
de repente como se não houvesse antes
antes que o velho fosse
fosse embora de uma vez
de uma vez chegou o novo
novo para mim e para ela
ela que tenta ignorar
ignora talvez não percebendo
não perceba que já me entreguei
me entreguei inteiramente
inteiramente envolvido
envolvido em tudo isso
tudo isso é inevitável
inevitável se apaixonar por ela
ela chegou chegando
estraçalhou minhas defesas
derrubou minhas barreiras
recolheu minhas migalhas
juntou os meus pedaços
e devolveu meus ciúmes
medos
defeitos
receios
por ela
em mesas de bares espalhadas
amigos e amigos de amigos
se encontram
reiteradamente
a procura não apenas de respostas
mas perguntas
um copo ou outro de cerveja
vinho
uísque
vodca
seja o que for
os ajuda
eficientemente
nos devaneios mais sensatos
e por ai percorrer
longas e longas horas
em instantes
papos descabeçados evaporam
risos descontrolados acontecem
gritos despreocupados escapam
choros enclausurados aparecem
uma fuga da realidade
da sobriedade
das responsabilidades
ensandecidamente felizes
ou perigosamente tristes
é a liberdade total
manifesta e em festa
tudo que o mais sóbrio
covarde e incapaz
jamais faria
o ébrio faz
satisfeito
é, de longe
o mais próximo que chegarão
da plenitude
do desapego
da vida
sóbrio, de perto (e tão longe)
apenas observo
atento
a sobriedade é minha embriaguez
a chuva choveu
o passo passeou
a vida viveu
o som soou
a festa festejou
o amor amou
a fuga fugiu
o ódio odiou
a morte morreu
mas o tempo
ingrato
não passou
e não passa
parou
assim, aconteceu
de repente
desapareceu
para onde?
não se vá
fique
sou forte
resisto
persisto
no erro
insisto no erro
é triste
sou forte
mentira
não sou forte
sou fraco
você é meu ponto fraco
me enfraquece
envaidece-se sem perceber
que sofro
fique
esteja comigo
aqui, ali
tão só não dá
por favor
eu imploro
me entrego
fique
depois, que sucedeu
ao menos, explique
não permita
que eu
suplique
insista em algo perdido
ao léu
em vão
sozinho, ficarei
não deixe
ajude
ao menos, agora
me faça feliz agora
para sempre
o presente
passou
o presente passou
outra vez
e de novo
passou…
o seu passo
se afasta
e destrói
meu desejo
suprimido
comprimido no peito
um castigo
você me aplicou
sem remorso
destemida
seus passos distantes
me matam
trucidam minha paz
meu amor
de uma vez
um dia
semana
um mês
ano
não escute os outros
é um engano
a si mesma
ignore
tampe os ouvidos
ouça a mim
apenas a mim
e fique
apenas
fique
em ensaios definicionistas
procuramos defeito radical
um termo genérico ideal
aquele pecado mais capital
e encontramos
mesmo que banal
a desonestidade
ela é desleal
o termo é ideal
para definir este ato abissal
pode ser intelectual
emocional
política
ética
e moral
um golpe baixo
sem volta
ela é radical
hepatite
rubéola
cólera
malária
gripes
suína e espanhola
epidemias amadoras
fracassadas
derrotadas
a verdadeira epidemia é outra
mais forte
cruel
indisciplinada e invencível
desonesta
isônoma
perversa
neurótica
psicótica
destrói vida
coração
sonho
chão
planos
sono
penteado
destrói o amor
deflagra guerras
gritos
sussurros
murros
e percalços
dezenas
milhares
milhões
bilhões de pessoas
sofrem
morrem
padecem
enfermas e desiludidas
constrangidas
perdidas
a paixão é a maior epidemia
e como tal
precisa ser erradicada
destruída
desconstruída
destituída de seu posto
poder
força e posição
é possível lutar contra esse mal
basta se afastar
evitar
pestanejar
chorar
ignorar
e por quê não
desviar
mentira
balela
engodo
embuste
lorota
é impossível vencê-la
evitá-la
impedi-la
não tem remédio
tratamento
cura
ajuda
solução
terapia
nada
não tem nada que resolva
é inerente
intrínseco
imanente
persistente
o jeito é
como sempre
eternamente
repetidamente
novamente
se entregar
e, outra vez
sofrer
e sofrer
são paulo, 31 de maio de 2012
hoje eu vi algo
estranho
não sei bem dizer
não sei bem falar
só sei dizer que foi algo
estranho
foi uma mulher
não uma qualquer
é claro
aquela mulher
aquela dos sonhos
sabe?
aquela escolhida
sabe?
aquela perdida
sabe?
esperando por você
mesmo sem saber
na verdade
estranho não foi o que vi
mas o que senti
de repente
de rompante, assim
na minha frente
inacreditavelmente
mesmo sem a conhecer
não a subestimei
assim, à primeira vista
me apaixonei