Sobre a preguiça e preocupações imbecis

Quem conhece minha casa sabe que tenho alguns livros. Quando mudei, os que se empilhavam no quarto da casa dos meus pais tiveram um respiro e passaram a habitar também uma sala, um avanço. Aliás, nas mesmas estantes e prateleiras, que trouxe comigo.

No primeiro dia de casa nova, a principal aflição não foi a cozinha sem armário, nem a sala sem sofá e muito menos o colchão no chão, sem cama.

A maior aflição foi olhar os livros desorganizados. Seria impossível uma mudança mantendo a ordem deles nas prateleiras. De modo que a lista de tarefas tinha como item inicial “organizar os livros”.

Porque aquele labirinto de lombadas, numa ordem quase orgânica, mas muito minha, era importante pra mim. Uma espécie de setorização da minha vida. Ou, ao menos, dos meus interesses.

São muitas fases e todas acompanhadas de livros. Quando estou na metade deles, já surge outro tema e mergulho novamente, abandonando – as vezes apenas deixando para depois – o tema anterior. Vêm novas caças nos sebos, outras visitas às livrarias e as trocas (tinha um site ótimo pra isso, preciso revisitar).

É como a analogia do pato…

(Não voam bem, mas voam. Não nadam bem, mas nadam. Não andam bem, mas andam. No fim, não fazem porra nenhuma bem, já que fazem um pouco de tudo.)

…só que com interesses. Teve a fase da ficção científica, do jornalismo, história, poesia, fotografia, monogamia, crítica de arte, programação, ocultismo (sim), biografias, gastronomia, educação, política, filosofia… Acho que deu pra entender.

Daí que sou um verdadeiro pato. Pato vermelho, por favor. Mas pato. Não me especializo em nada (bye bye mestrado), mas a variedade tem suas vantagens. Tô feliz e tals, não reclamo não.

Caralho. Pra variar desviei do assunto.

Enfim… Na verdade só queria escrever que fará dois anos da mudança (daqui a pouco vem outra), tenho cama, sofá e até armário na cozinha.

Mas nunca organizei os livros. Acho que até acostumei com eles assim. Ou não.

Tá uma zona.

Outro dia achei um Freud grudado no Paulo Coelho. Um São Cipriano roçando o Hobsbawn. Clarice atracada com Asimov. E, pasmem, um Proudhon colado no Marx.

Heresia pura. Um horror.

Mas prometo: na próxima mudança arrumo tudo. Os invejosos dirão que a preguiça sempre vencerá.

E estarão certos. A preguiça sempre vence.