homenagens à tortura.
homenagens à tortura escancaradas.
no congresso.
homenagens à tortura escancaradas no congresso nacional.
em rede nacional.
e o escambau.
violência.
violência física, histórica e moral.
perpetuando discriminação, morte e tristeza.
dia a dia.
cotidianamente.
escravidão moderna.
em dois mil e dezenove, que seríamos…
sei lá…
evoluídos?
pessoas são escravizadas diariamente.
oficialmente.
quem se importa realmente?
estupro.
um estupro a cada 11 minutos.
11 minutos e lá vem: outro estupro.
corpos invadidos à contra gosto.
e o gosto amargo de sangue, permanece, na boca.
não há tamanho abuso.
é insano, perverso e covarde.
destruição da terra.
não há palavra que não seja destruição,
pra descrever o que fazemos,
com a terra.
o firmamento da nossa existência sofre.
com fumaças, detritos e mutilações.
sem pestanejar,
nos tiraremos chão, literalmente.
cairemos.
inércia.
uma inércia antropofágica nos impera.
e inertes que portanto somos, seguimos, a boiada.
em direção do eterno abismo,
precipício.
[/fim das sete porradas em nossas fuças.]
]]>Contato mesmo, no dia a dia, não tinha.
Agora tenho.
O prédio em que moro tem elevador e é frequente encontrar vizinhos saindo ou chegando de casa.
Vida diária, complexa e corrida. Classe média sofre.
Outro dia o vizinho do quarto andar subiu comigo. Limitei-me ao “boa noite” padrão, fruto de uma educação ocidental. Mas meu sorriso amarelo escondia uma vontade inenarrável de cagar.
Desculpe se o termo “cagar” soa grosseiro. Não conheço-o de outra forma. Entendo os falantes, mas tenho minha própria gramática.
E o anjo, ao entrar no recinto, fez o favor de esbarrar com a mochila, sem querer, no painel. E apertou todos os andares de 1º a 6º.
E eu, com uma vontade do caralho de cagar.
Daquelas de já atravessar a portaria com respiração contida. Andando como se estivesse numa passarela, fechando as pernas regularmente para evitar acidentes envolvendo cocô escorrendo pela perna.
AÍ,
O GRANDISSÍSSIMO
FILHO DA PUTA
APERTOU NA PORRA DE 6 NÚMEROS DIFERENTES
ME OBRIGANDO A SEGURAR O JATO DE MERDA QUE CONTINHA EM MIM.
DIFUDÊ.
…
Enfim. Vida que segue.
Fui abençoado e ao vaso sanitário cheguei a tempo.
¿Já agradeci hoje Duchamp pelo necessário enaltecimento do vaso sanitário?
]]>apenas não.
nós.
]]>Em 1994, teve 4.671.457 (sim, quatro milhões, seiscentos e setenta e um mil, quatrocentos e cinquenta e sete fucking votos), 7,38% dos votos válidos, sendo o 3º colocado.
Em 1998, teve 1.447.090, contabilizou 2,14% dos votos válidos, 4º colocado.
Em 2000 tentou ser prefeito de São Paulo (quem nunca?) e 2002 elegeu-se deputado federal com maior votação da história para o cargo, ainda hoje não superada. Foram 1.573.112 votos. Reelegeu-se em 2006 e morreu em 2007.
…
Aí vem a comparação prometida no título: sempre tivemos – e provavelmente continuaremos a ter – candidatos extremistas, barulhentos e com algum apelo popular. Servem de piada à plateia e de ração aos raivosos (racistas, machistas, homofóbicos e criminosos no geral).
Só que lá no fundo, bem no fundo, na contagem dos votos, a perversidade permanece exceção e, parasita que é, à espreita da ignorância alheia.
E cabe também à nós (alô, professores) não permitir que a ignorância se propague e incentivar o pensamento crítico, qualificado, plural e democrático.
É, como dizem, trabalho de formiguinha. Otimismo ingênuo, talvez.
Mas ser otimista a luz da realidade é quase um ato revolucionário.
E necessário.
]]>Cruzes!
[/fim de sonho de sábado para domingo]
]]>Quer dizer, nem tanto. É supérfluo até, mas enfim. Quero conversar.
E não, não é indireta pra ninguém. Me respeita.
Premissa: adoro textão. De verdade, se não for pra ler textão nem pago a internet. Gosto mesmo, leio mesmo, curto mesmo e compartilho mesmo. Se tiver “ver mais” eu clico e “continuar lendo” clico de novo.
E quando leio um texto, imagino a fala e o os trejeitos da pessoa que o escreveu. Poderia ser vício de professor, sempre atento aos trabalhos de alunos e alunas que às vezes copiam e colam no mais pleno descaramento. Mas não é o caso, já que essa “voz do autor” também se manifesta ao ler autores mais consagrados e que não conheço pessoalmente, nunca vi e muito menos ouvi. Enfim. É simplesmente ler sabendo quem escreveu.
E ciente de ser absolutamente igual a qualquer outra pessoa, acredito que todo mundo ouça as vozes. Então minha reclamação encontrará eco e talvez torne-se pontapé de uma revolução maior, quiçá gatilho para a tomada de Brasília e implantação do comunismo. ☭
Aos fatos: Mariazinha escreve as coisa. Nóis lê. Fica empolgado. Qué abraçá. Qué chorá junto. Tomá uns goró junto. Lê GRITANDO A PORRA TODA. Quase clica no botão compartilhar. Botão curtir. Botão amei. Botão hahaha. Botão glorificar de pé.
E, no final: “Ass. Joãozinho”.
Ué.
¿Não foi a Mariazinha que escreveu? Quem é esse Joãozinho? Onde vive? Como sobrevive? Do que se alimenta?
¿Não podia avisar antes? Apresentar? Pôr aspas? Dois pontos? Marcar no começo? Compartilhar o post original? Assim, sem preliminares? Nada? Nada? NADA!?!?!?
Não é plágio, ok. Os créditos estão ali, ok. Mas poxa, gente. Não dá. É tipo esse ponto de interrogação invertido que tô usando no texto. ¿Ajuda, né? Quem inventou manja dos paranauê. Eu sei que cada um escreve o que quiser na sua própria página e blá blá blá. Mas assuntos sérios como esse precisam ser expostos.
É isso.
Chega! Basta! Muda, Brasil!
Ass. Clarice Lispector
]]>os tabuleiros aí,
às vistas.
nada sabemos,
nada vemos,
incautos.
felizes são os jogadores.
]]>No primeiro dia de casa nova, a principal aflição não foi a cozinha sem armário, nem a sala sem sofá e muito menos o colchão no chão, sem cama.
A maior aflição foi olhar os livros desorganizados. Seria impossível uma mudança mantendo a ordem deles nas prateleiras. De modo que a lista de tarefas tinha como item inicial “organizar os livros”.
Porque aquele labirinto de lombadas, numa ordem quase orgânica, mas muito minha, era importante pra mim. Uma espécie de setorização da minha vida. Ou, ao menos, dos meus interesses.
São muitas fases e todas acompanhadas de livros. Quando estou na metade deles, já surge outro tema e mergulho novamente, abandonando – as vezes apenas deixando para depois – o tema anterior. Vêm novas caças nos sebos, outras visitas às livrarias e as trocas (tinha um site ótimo pra isso, preciso revisitar).
É como a analogia do pato…
(Não voam bem, mas voam. Não nadam bem, mas nadam. Não andam bem, mas andam. No fim, não fazem porra nenhuma bem, já que fazem um pouco de tudo.)
…só que com interesses. Teve a fase da ficção científica, do jornalismo, história, poesia, fotografia, monogamia, crítica de arte, programação, ocultismo (sim), biografias, gastronomia, educação, política, filosofia… Acho que deu pra entender.
Daí que sou um verdadeiro pato. Pato vermelho, por favor. Mas pato. Não me especializo em nada (bye bye mestrado), mas a variedade tem suas vantagens. Tô feliz e tals, não reclamo não.
Caralho. Pra variar desviei do assunto.
Enfim… Na verdade só queria escrever que fará dois anos da mudança (daqui a pouco vem outra), tenho cama, sofá e até armário na cozinha.
Mas nunca organizei os livros. Acho que até acostumei com eles assim. Ou não.
Tá uma zona.
Outro dia achei um Freud grudado no Paulo Coelho. Um São Cipriano roçando o Hobsbawn. Clarice atracada com Asimov. E, pasmem, um Proudhon colado no Marx.
Heresia pura. Um horror.
Mas prometo: na próxima mudança arrumo tudo. Os invejosos dirão que a preguiça sempre vencerá.
E estarão certos. A preguiça sempre vence.
]]>“Quanto você cobraria pra limpar a privada alheia?”
“Ãhn!?”
“Oferta e demanda, fia. Joga no Google…”
“…”
“…Ah, e me passa o telefone da Fulana.”
]]>“Gostaria de cancelar minha assinatura, Amanda, por favor”. Pensei que sendo direto e conciso, talvez, em algum universo paralelo, evitasse o inevitável: as propostas.
“Boa tarde. Por gentileza, peço que aguarde um instante enquanto localizo sua assinatura”. Pronto, começou. Vai lá, querida. Procura minha assinatura no armário. Deve ser uma gaveta chamada clientes digitais. Tudo datilografado. Com firma reconhecida em cartório.
“Aguardando”, digo. Aprendi que nesses chats o melhor é sempre dar a última palavra. Deixar a conversa sempre ativa. Qualquer distração vira inatividade que vira perca de conexão.
“Por qual motivo deseja cancelar sua assinatura, Sr. Raphael?”
“Só assinei para ler as matérias online sem limites, mas descobri que assinantes UOL também possuem este acesso. E como já assino o UOL, posso cancelar a Folha sem perder nada”. De novo, a prepotência bateu e tive certeza que expressei-me tão diretamente que jamais abriria brecha para tentativas de convencimento.
Ledo engano.
“Compreendo, Sr. Raphael. No entanto, apenas assinantes Folha tem acesso ao jornal digitalizado”.
Ahã, dona Amanda. Super quero acessar a as páginas do jornal impresso dentro de um flash player (!?) xexelento, deliciando-me com estonteantes cliques e muito zoom! Seria um sonho!?
Mal comecei a digitar uma resposta mais polida (que o desabafo acima) e mais uma mensagem padrão deu as caras:
“Como forma de incentivo à sua permanência, gostaríamos de reduzir o valor das próximas seis parcelas do plano digital para apenas R$19,90 por cada uma delas. O que acha da proposta?”
“Realmente não tenho interesse, Amanda. Obrigado. Peço que proceda com o cancelamento.”
E o CTRL+C CRTL+V mais rápido do oeste apresentou-se novamente:
“E se fizermos melhor, Sr. Raphael?”
Sério?
“Podemos reduzir o valor das próximas parcelas do plano digital para apenas R$17,30, um investimento menor que R$0,60 por dia. Este valor especial não pesará em seu orçamento e tenho a plena convicção de que seu hábito de leitura irá aumentar ao ponto da Folha se tornar sua principal fonte de informação.”
Sugerir a Folha como principal fonte de informação só confirmou a vontade de cancelamento. Cruzes! Se soubessem que às vezes leio as notícias com o nariz tapado…
“Não, obrigado. :)”
Confesso que o emoji de sorriso não foi exatamente sincero. Dez minutos perdidos nessa porra de chat.
“Entendemos, mas antes de prosseguir…”
PUTA
QUE
O
PARIU.
“…com o cancelamento, gostaríamos de fazer uma oferta irrecusável. Podemos, nos próximos seis meses, reduzir o valor da sua assinatura digital para R$9,90. Ou seja, investirá apenas este valor simbólico e poderá fazer alterações em sua assinatura, pois nossos planos não possuem fidelidade. Fique conosco!”
“Caramba! Vou começar a pedir mais cancelamentos”.
Obviamente, ela não respondeu o comentário.
“Enfim, não aceito a proposta. Cancele, por favor.”
“Compreendo e respeito sua decisão [que anja! respeitando minha decisão!]. Um momento, por gentileza, enquanto cancelo.”
“Aguardo”, agora já esperando o sistema cair ou a conexão falar. Cruzei os dedos. As pernas. E os braços.
Essa mulher não digitou uma palavra sequer a conversa inteira. Tudo CTRL+C CRTL+V. Antes fosse um robô mesmo, assim não constrangeria meu xingamento.
“Lamentamos, sinceramente, por sua decisão, mas a entendemos e respeitamos. Já efetuei o cancelamento e seus acessos permanecerão disponíveis até 09/01, por conta do seu último pagamento.”
\o/ \o/ GLÓRIA GLÓRIA ALELUIA SENHOR MEU DEUS QUE ALEGRIA QUE FELICIDADE TÔ LIVRE PARA VIVER FORA TEMER \o/ \o/
]]>imensidão por dentro.
ruídos pelas ventas.
sem toque,
as intimidades encontram-se
c
e
r
t
por
l
i
n
h
a
s
t
o
r
t
a
s
(in)tensa existência
gratidão
anticonstitucionalissimamente
procrastinação papibaquígrafo
subjetividade a promiscuidade
interpessoal uma cumplicidade
resiliência nutre ambigüidade
pragmático empatia ostentação
concessão ignorante altruísta
paradoxo contundente stalkear
escroto discernimento sucesso
cínico idiossincrático clichê
porra intertextualidade tênue
peço indiscriminadamente amor
chato pseudointelectual blasé
cético simultaneamente insano
lobista indissociável coxinha
metódico prepotência monótono
subjetivo assexuado promíscuo
iniquidade baralho sarcástico
egocêntrico entre subseqüente
libertinagem que malemolência
reciprocidade o empoderamento
personificação pistantrofobia
hipopotomonstrosecomalhofobia
um dia
talvez nunca
sobriedade refina
vou para a guerra
da educação
mostrar pra galera
que repetição
de tempos outrora
já diz a história
só dá repressão!
não renda, aprenda!
parar pra pensar
é o necessário
olhar ao redor
os interesseiros
desejam apenas
o mesmo de sempre
o poder por poder
se for necessário
irei para frente
e nós em uníssono
faremos ouvir
em grito ardente:
não!
à esposa, deu um lindo vaso de flores
mas lembrou-a: amizade só com mulher, nada de homens
levou chocolate às colegas de trabalho
mas a presidenta: chama de vagabunda
da garçonete beijou a mão, abriu-lhe a porta, um cavalheiro
mas na esquina: gritou “gostosa” à primeira que viu
ligou para a mãe, sagrada, e agradeceu a criação
mas em casa: não lava, não passa e nunca limpou uma privada na vida
de noite, ajoelhou-se, arrependido
pobre homem
sempre ele
só queria passar a mão
com todo o respeito
só que não
dormiu em meu peito
virou-me do avesso
o cigarro acendi
ventilador assoprou
fumaça
em você
percebi-te com frio
desliguei
e vi
teu sono pesado
foi terno
respiras
inspiro
momento eterno
ao te observar
não posso provar
brilhou-me o olhar
ah, e por fim
suei
ventilador religuei
no mínimo
o máximo pra você
o mínimo pra mim
o sono dos justos
juntos
tivemos, temos, teremos
e eu
ainda que de burca estivesse
exalaria pelas brechas o suor
o cheiro de gozo que me desce
“Só um passinho.”
Essa frase brilhante se espalhou com tamanha destreza que chego a acreditar que estes bípedes portadores de síndrome do pequeno poder têm razão e, de fato, ônibus são como coração de mãe: sempre cabe mais um.
“Só um passinho.”
Porque, sem dúvidas, nos recusamos a dar mais um passinho porque não queremos trocar de encoxadas. Convenhamos: temos um baita trabalho pra conseguir encoxar alguém (ou ser encoxado) e, quando a intimidade está próxima de chegar, gritam a bendita frase, como se fôssemos uma quadrilha de festa junina na hora de trocar de par. Assim não dá. Relacionamentos líquidos têm limites: queremos vínculos!
“Só um passinho.”
Afinal, nosso objetivo secundário (lembrando a prioridade das encoxadas) é atrapalhar a passagem de outros passageiros. É maldade mesmo. Freud disse. Nietzsche também. Somos maus, pô. É super possível abrir espaço para aquele colega que pretende chegar à porta nos dois segundos que lhe restam, após perceber segundos antes da parada que (creiam!) chegou seu ponto. Se não der para passar pelo lado, vai por cima, “só um pulinho”, talvez. Ou por baixo, abre as pernas, quem sabe rola um chamego? Super possível, mas somos inerentemente maus. Queremos atrapalhar todo mundo mesmo.
“Só um passinho.”
Até porque, não importa se fomos até o ponto final para viajar confortavelmente. Nossa obrigação ética (moral e o escambau) é abrir alas para o amiguinho que pegou o bonde andando e quer sentar na janelinha. “Só mais um degrau pra fechar a porta”, diz, sorrindo, o simpático motorista. Homem de bem (mulheres são raras, por que será?), jamais andaria com as portas abertas. Preza pela nossa segurança. Pena que no degrau de cima já encontram-se 234 pessoas (talvez 233, estava meio atordoado) e não dá pra subir. “Só saio quando conseguir fechar a porta”. Mas não é um gentleman este motorista? Cabe aos passageiros se entucharem só mais um pouquinho. Quem precisa de dignidade?
]]>Nem hesito: foda-se o planeta.
]]>