#PrecisamosFalarSobrePodcasts

Sou ouvinte de podcasts há bastante tempo. Acho que os primeiros que ouvi foram o Semana Tech e o Guanabara.Info, que nem existem mais. Cheguei a ter o meu próprio (Negação Lógica, falávamos de política, e fico constrangido, hoje, ao constatar como éramos fracos) que precisamos matar por conflitos de tempo/agenda.

Enfim, percebi ter vários amigos aqui nessa internet sem sequer saber o que é podcast e, portanto, é minha obrigação apresentar. Porque assim, sério, você precisa conhecer. Tem uma porrada de conteúdo bom, do seu interesse, que você está perdendo. E não é esse monte de ruído da internet. Nem vai gastar seu tempo, você pode conciliar com um passeio de bicicleta, uma ida à academia, em trajetos casa/trabalho/qualquer lugar, dentro do carro ou no busão/metrô com fone de ouvido. É tipo ouvir música ou rádio. Só que mais legal. Ou não.

Mas tio, o que é podcast? É um programa, em áudio. Você assina e recebe sempre que um episódio novo é lançado. Já foi mais difícil ter acesso à eles. Hoje, em tempos de smartphones sempre conectados, basta instalar um aplicativo de sua preferência (tem pra Android, iPhone, Windows Phone, qualquer um), procurar pelos programas que te interessam e clicar no botão de assinar. Você pode configurar, é claro, para receber um aviso quando saírem episódios novos e baixar apenas se o tema te interessar.

Eu assino uma caralhada de programas, mas vou indicar só uns 10 por motivos de: já virou textão. Eis eles.

O Norte: como se já não bastassem os excelentes textos do Oene, os caras resolveram fazer um portcast direto do norte (da América) discutindo diversos assuntos e colocando em perspectiva as realidades do Brasil e dos Estados Unidos.

AntiCast: um dos meus preferidos, era para ser um podcast com a visão dos designers sobre o mundo, mas é muito mais do que isso. Com uma dose certa de seriedade e bom humor, arte, cultura, filosofia e temas como estes estão sempre em pauta.

A Voz de Delirium: entre os podcasts brasileiros, o formato storytelling ainda é raridade. Esse é uma dessas raridades. É um programa de rádio simulado de uma cidade fictícia chamada Deliruim, onde as coisas mais estranhas acontecem.

BrainCast: dessa minha lista, acho que é o mais antigo e “tradicional”. É tocado por um pessoal que domina muito bem os assuntos do momento. Criatividade, comunicação, entretenimento e internet são palavras que estão em uma boa descrição do que eles fazem.

Cine Masmorra: muita reflexão e diversão para quem gosta de cinema independente. Já descobri muitos filmes incríveis com as dicas deles.

Cinema em Cena: mais um podcast de cinema. Sem demérito. É um dos melhores. Têm séries de programas que destrincham obras de vários ótimos diretores como Lars von Trier, William Friedkin, Hayao Miyazaki, Copola, Andrei Tarkovsky e vários outros. Além dos episódios regulares que sempre discutem bons filmes.

Escriba Café: ninguém falava em storytelling no Brasil e o Escriba Cafe já produzia episódios inacreditáveis de tão bem feitos. Tenho medo de não saber descrever bem do que se trata. Simplesmente ouça.

Fronteiras da Ciência: físicos, biólogos, professores e os mais qualificados convidados da UFRGS tentam trazer os temas complexos da ciência para um vocabulário que nós leigos entendamos. No que se refere à divulgação científica, não conheço nada tão bom entre os podcasts brasileiros.

Guia Prático: tecnologia e informática, a versão em áudio do blog Manual de Usuário.

Isso é muito Tarantino: programa bem interessante. Um bate papo entre amigos em trajetos de um lugar para outro, em mesas de bares/ restaurantes, ou qualquer lugar desses em que conversamos com nossos amigos. Os papos são divertidos e o fato de não ter muita edição, ser uma conversa mais “crua” deixa a coisa bem bacana.

Mamilos: de longe, a mais feliz surpresa de 2015. Os assuntos mais polêmicos discutidos pelas ponderadas Cris Bartes e Juliana Wallauer em uma mesa cheia de amor e discordâncias. O que elas fazem é inédito. Nos faz pensar sobre tudo, nos colocando no nosso lugar e no lugar do coleguinha.

Não Obstante: esse é hard. Discussões filosóficas e acadêmicas principalmente para quem (mas não só) se interessa por arte e design.

Papo de Fotógrafo: excelente bate papo sobre fotografia, várias vezes com convidados especialistas.

Revista Piauí: pequenas pílulas em áudio sobre alguns artigos ou poemas da revista piauí.

Um Milkshake Chamado Wanda: conheci ontem. Ainda não entendi o nome, mas entenderei. Trata-se de um bate papo descontraído sobre vários assuntos da cultura pop. Fazia tempo que não ria tanto ouvindo um podcast.

We Can Cast It!: este anda em hiato, não sei quando volta, mas copiando a descrição do próprio site delas, é um podcast feminista sobre cultura pop, livros, filmes, quadrinhos, polêmicas e tudo o mais que couber em 30 minutos. Bom para ajudar as minas no empoderamento de cada dia e colocar a gente no nosso cantinho da disciplina.

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É sério, dê uma chance para os podcasts. Se tiver dificuldade, me dá um toque, eu te ajudo.

E se você já sabe o que é, já ouve, conhece bem mais do que eu, melhor ainda! Aproveite para indicar aí na sua ~rede social~ seus programas favoritos.

É isso.

(publicado originalmente no medium)

Enfim, o fim

Sem firulas e afloramentos, este post vem para anunciar o fim do Negação Lógica. Pode parecer notícia óbvia, devido ao nosso hiato, mas só agora tomamos esta decisão.

Criado em 2009, por três amigos que achavam que faltava um espaço na internet para discutir política de forma descontraída, o Negação Lógica superou as expectativas iniciais. Conhecemos muita gente bacana, discutimos vários assuntos espinhosos sem desrespeito. Acertamos, erramos, tropeçamos e o mais importante, crescemos muito junto com o site.

Apesar de continuarmos achando que falta este espaço na internet, não temos mais condições de continuá-lo com a qualidade que faz-se necessária. E, se para o site permanecer no ar, fosse consequência diminuir o esmero, optaríamos por encerrá-lo. E é exatamente o que fazemos agora.

Esperamos que, dentro das possibilidades, o site tenha cumprido bem o seu papel e que os amigos que conquistamos durante a jornada, não percam-se com o tempo. Sempre será fácil achar-nos por aí. Afinal, a internet é grande, mas instantânea. E com certeza projetos paralelos surgirão.

Aproveito este mini-espaço para agradecer todas pessoas que direta ou indiretamente contribuíram para que o NL durasse o tempo que durou. Todos os colunistas, ouvintes, leitores, críticos, amigos e inimigos. Nos perdoem o clichê, mas sem vocês nada faria sentido. Um agradecimento especial é justo aos queridos Gustavo Guanabara e Marcelo Salgado. Estes dois, enquanto muita gente torcia o nariz, apoiaram-nos e acreditaram que não éramos meros aventureiros. Temos certeza que não os decepcionamos. Quem sabe, quando tivermos condições físicas/temporais/humanas/capitalistas (ops, não resisti) voltemos de alguma outra forma.

634 posts, 2.166 comentários, 95 podcasts e 14 colunistas/colaboradores. Este é o inventário quantificável do Negação Lógica, que a partir deste momento, oficialmente, encerra as suas atividades. Mas o legado intangível é também imensurável. Foi bom enquanto durou e só teremos boas recordações de tudo que nos proporcionou.

Até logo!

Sobre as manifestações em São Paulo

O preço do tomate. A copa das confederações. A visita do Papa Francisco. E todos os outros assuntos que a mídia abraça com amor, carinho e dedicação foram postos de lado na última semana, dando espaço aos comentários mais diversos sobre as manifestações contra o reajuste dos valores do transporte público na cidade de São Paulo (e em algumas outras cidades do Brasil).

A maioria dos brados retumbantes criminalizam as manifestações, junto com as organizações e movimentos que foram, inevitavelmente, vinculados aos protestos. O Movimento Passe Livre e alguns partidos de esquerda (PSTU, PCO e PSOL), apesar de não colocarem-se como “organizadores” dos atos, participam ativamente na mobilização de pessoas pelas redes sociais e com a distribuição de panfletos em filas de ônibus, catracas das estações do metrô e outros locais de grande circulação. Pessoas que utilizam o transporte público, preferencialmente.

Este, inclusive, é um ponto importante durante a análise da cobertura da mídia. A classe média que não faz uso do transporte público também é bem vinda nas manifestações. Afinal, a manifestação ideal será quando não apenas as pessoas diretamente interessadas mobilizarem-se, mas quando houver uma consciência coletiva da necessidade de mudança, independente dos interesses pessoais. Mas como estamos longe do ideal, vemos nas ruas uma minoria, dentro desta maioria que faz uso do transporte público. É uma minoria com mais acesso à educação. Uma minoria que talvez tenha um bom celular (“marginal com iPhone na mão e Nike no pé, badernando por 20 centavos, um absurdo!”, gritam os apresentadores sensacionalistas de TV). Mas uma minoria que USA O TRANSPORTE PÚBLICO.

Não é possível que uma pessoa, em sã consciência, utilize o transporte público na cidade de São Paulo e não considere R$3,20 um absurdo. O ponto principal nem é o aumento de 20 centavos. Isto foi apenas o estopim. R$3,20 é injusto e R$3,00 era injusto. Não espero chegarmos ao “passe livre” (transporte gratuito, pelo menos para estudantes e idosos), mas seria de grande valia se o governo disponibilizasse os dados detalhados do custeio do transporte. Incluso aí, os gastos com manutenção, pagamento de salários, investimentos e lucro das empresas concessionárias. Principalmente, o lucro das empresas concessionárias. É o mínimo.

O que mais irrita alguns críticos é o trânsito causado pelas manifestações. Os jornais, nas rápidas e tendenciosas entrevistas com a população, sempre mostra alguém (dentro do seu carro) reclamando que levou horas para chegar em casa. Que apoia qualquer tipo de manifestação, desde que as mesmas não atrapalhem o direito de “ir e vir”. Como se a luta por melhorias no transporte público não tratasse exatamente do direito de ir e vir.

Se determinado protesto atrapalha o trânsito: ótimo. Porque o objetivo é chamar a atenção. Se a manifestação não interromper o modorrento e repetitivo dia das pessoas, ela será inócua. Ninguém prestará atenção. É tão óbvio que dá vergonha de explicar. É importante informar aos desinformados que a Constituição nos garante o direito de livre manifestação, nas vias públicas, inclusive. Onde os Caras Pintadas chamaram atenção? Alguém acha que o movimento das Diretas Já foi no Parque do Ibirapuera? Que os manifestantes sitiaram a praça Benedito Calixto? Foi em vias públicas, meus caros. Em vias públicas.

Outro argumento interessante, pra não chamar de imbecil, é o de que há hospitais nas regiões dos protestos. Que isso prejudica a locomoção de ambulâncias e, consequentemente, pode custar vidas de doentes que precisam de acesso rápido aos hospitais. Antes de falar sobre isso, invoco o pai dos burros, mais conhecido como Aurélio (ed. 2012), para uma leve definição de falácia:

“2. afirmação falsa ou errônea”

Pois trata-se exatamente disso. Com a falácia espalhada (não apenas pelas redes sociais, mas também por aqueles apresentadores sensacionalistas citados outrora), a natural solidariedade das pessoas aos enfermos e necessitados sobrepõe a lógica e um argumento estapafúrdio como esse vira verdade absoluta na boca dos pseudo-indignados. Talvez seja necessário lembrarmos o óbvio: o que atrapalha as ambulâncias de chegarem aos hospitais não são as manifestações, e sim o trânsito. Trânsito este já comum na cidade. Foi exatamente por isso que algum gênio desconhecido inventou a sirene. Ouso afirmar, inclusive, que os manifestantes abririam espaço mais rápido para uma ambulância do que os carros engarrafados. É uma questão logístico-espacial, acho.

Um último ponto é o já famoso vandalismo das pessoas. Essa gente degenerada e violenta que destrói a cidade, enquanto a gloriosa polícia tenta defender nosso patrimônio. Estes jovens vagabundos querem baderna e destruição, enquanto a polícia defende nosso direito de ir e vir, indo e vindo com balas de borracha e bombas de efeito moral. Essa ratataia periférica que ousa incomodar o centro da cidade, por míseros 20 centavos, ante aos heróicos policiais, defensores da paz e livre convivência.

Não fui a todas as manifestações, apenas algumas. Mas pelo relato de alguns colegas, quem normalmente inicia a violência física é a polícia. Grito e xingamentos são comuns nas manifestações. Muitas vezes esses xingamentos são contra a polícia. Sim, isso é comum. Principalmente quando eles formam a formosa barreira para impedir os manifestantes de avançarem.

O problema é que o ego da corporação policial (principalmente a paulista) vai além da estratosfera. Quando são ofendidos usam da força bruta que detém, legitimada pelo Estado, pra meter porrada em quaisquer cidadãos que estejam pela frente. Não defençável o xingamento aos policiais. Me parece até um desperdício de energia. Mas responder grito com bala está longe de ser eficaz para “evitar a desordem”. Ações geram reações e a polícia militar sabe bem disso. Os governos do estado e prefeitura também sabem.

O que há de interessante nas manifestações de 2013 (diferentes das de 2011) é observar que em vez de diminuírem o número de participantes, aumenta. O segundo ato foi maior que o primeiro. O terceiro, maior que o segundo. O quarto, maior. E o quinto, na próxima segunda-feira, promete.

Talvez não dê em nada. Talvez a passagem do ônibus/metrô suba. Talvez, como sempre, os jornais mantenham o foco na minoria que aproveita do movimento para destruir algumas vidraças, enquanto uma maioria pacífica e escandalosa grita no vácuo da mídia independente e das redes sociais. Mas nós temos câmeras. Tiraremos fotos e faremos vídeos. A polícia não conseguirá destruir tudo. Não temos o que esconder. E se as imagens vierem a público, o próprio público poderá tirar suas conclusões, antes do JN começar.

Enquanto a imprensa e governo fingirem que é uma causa dispersa e ilegítima, ajudará o movimento. Desta vez, é uma causa coletiva e legítima. As pessoas que estão ali acreditam. Não são ingênuas. Sabem que o preço da passagem não reduzirá imediatamente. Mas o diálogo e a reflexão precisavam de um ponta-pé. Nem que seja em troca de balas de borracha e bombas de efeito moral. Vamos gritar e gritar.

E se a tarifa não baixar, a cidade vai parar.