“Bem-vindo ao Serviço de Atendimento Folha de S.Paulo. Em que posso lhe auxiliar?”, escreveu Amanda, às 15h33min, assim que ingressei ao chat.
“Gostaria de cancelar minha assinatura, Amanda, por favor”. Pensei que sendo direto e conciso, talvez, em algum universo paralelo, evitasse o inevitável: as propostas.
“Boa tarde. Por gentileza, peço que aguarde um instante enquanto localizo sua assinatura”. Pronto, começou. Vai lá, querida. Procura minha assinatura no armário. Deve ser uma gaveta chamada clientes digitais. Tudo datilografado. Com firma reconhecida em cartório.
“Aguardando”, digo. Aprendi que nesses chats o melhor é sempre dar a última palavra. Deixar a conversa sempre ativa. Qualquer distração vira inatividade que vira perca de conexão.
“Por qual motivo deseja cancelar sua assinatura, Sr. Raphael?”
“Só assinei para ler as matérias online sem limites, mas descobri que assinantes UOL também possuem este acesso. E como já assino o UOL, posso cancelar a Folha sem perder nada”. De novo, a prepotência bateu e tive certeza que expressei-me tão diretamente que jamais abriria brecha para tentativas de convencimento.
Ledo engano.
“Compreendo, Sr. Raphael. No entanto, apenas assinantes Folha tem acesso ao jornal digitalizado”.
Ahã, dona Amanda. Super quero acessar a as páginas do jornal impresso dentro de um flash player (!?) xexelento, deliciando-me com estonteantes cliques e muito zoom! Seria um sonho!?
Mal comecei a digitar uma resposta mais polida (que o desabafo acima) e mais uma mensagem padrão deu as caras:
“Como forma de incentivo à sua permanência, gostaríamos de reduzir o valor das próximas seis parcelas do plano digital para apenas R$19,90 por cada uma delas. O que acha da proposta?”
“Realmente não tenho interesse, Amanda. Obrigado. Peço que proceda com o cancelamento.”
E o CTRL+C CRTL+V mais rápido do oeste apresentou-se novamente:
“E se fizermos melhor, Sr. Raphael?”
Sério?
“Podemos reduzir o valor das próximas parcelas do plano digital para apenas R$17,30, um investimento menor que R$0,60 por dia. Este valor especial não pesará em seu orçamento e tenho a plena convicção de que seu hábito de leitura irá aumentar ao ponto da Folha se tornar sua principal fonte de informação.”
Sugerir a Folha como principal fonte de informação só confirmou a vontade de cancelamento. Cruzes! Se soubessem que às vezes leio as notícias com o nariz tapado…
“Não, obrigado. :)”
Confesso que o emoji de sorriso não foi exatamente sincero. Dez minutos perdidos nessa porra de chat.
“Entendemos, mas antes de prosseguir…”
PUTA
QUE
O
PARIU.
“…com o cancelamento, gostaríamos de fazer uma oferta irrecusável. Podemos, nos próximos seis meses, reduzir o valor da sua assinatura digital para R$9,90. Ou seja, investirá apenas este valor simbólico e poderá fazer alterações em sua assinatura, pois nossos planos não possuem fidelidade. Fique conosco!”
“Caramba! Vou começar a pedir mais cancelamentos”.
Obviamente, ela não respondeu o comentário.
“Enfim, não aceito a proposta. Cancele, por favor.”
“Compreendo e respeito sua decisão [que anja! respeitando minha decisão!]. Um momento, por gentileza, enquanto cancelo.”
“Aguardo”, agora já esperando o sistema cair ou a conexão falar. Cruzei os dedos. As pernas. E os braços.
Essa mulher não digitou uma palavra sequer a conversa inteira. Tudo CTRL+C CRTL+V. Antes fosse um robô mesmo, assim não constrangeria meu xingamento.
“Lamentamos, sinceramente, por sua decisão, mas a entendemos e respeitamos. Já efetuei o cancelamento e seus acessos permanecerão disponíveis até 09/01, por conta do seu último pagamento.”
\o/ \o/ GLÓRIA GLÓRIA ALELUIA SENHOR MEU DEUS QUE ALEGRIA QUE FELICIDADE TÔ LIVRE PARA VIVER FORA TEMER \o/ \o/