Vivi até os 28 anos sem ter costume com elevador. Frequentava alguns, raramente, numa vida comercial. Às vezes em hotéis. No shopping. Na casa de parentes, amigos e tals.
Contato mesmo, no dia a dia, não tinha.
Agora tenho.
O prédio em que moro tem elevador e é frequente encontrar vizinhos saindo ou chegando de casa.
Vida diária, complexa e corrida. Classe média sofre.
Outro dia o vizinho do quarto andar subiu comigo. Limitei-me ao “boa noite” padrão, fruto de uma educação ocidental. Mas meu sorriso amarelo escondia uma vontade inenarrável de cagar.
Desculpe se o termo “cagar” soa grosseiro. Não conheço-o de outra forma. Entendo os falantes, mas tenho minha própria gramática.
E o anjo, ao entrar no recinto, fez o favor de esbarrar com a mochila, sem querer, no painel. E apertou todos os andares de 1º a 6º.
E eu, com uma vontade do caralho de cagar.
Daquelas de já atravessar a portaria com respiração contida. Andando como se estivesse numa passarela, fechando as pernas regularmente para evitar acidentes envolvendo cocô escorrendo pela perna.
AÍ,
O GRANDISSÍSSIMO
FILHO DA PUTA
APERTOU NA PORRA DE 6 NÚMEROS DIFERENTES
ME OBRIGANDO A SEGURAR O JATO DE MERDA QUE CONTINHA EM MIM.
DIFUDÊ.
…
Enfim. Vida que segue.
Fui abençoado e ao vaso sanitário cheguei a tempo.
¿Já agradeci hoje Duchamp pelo necessário enaltecimento do vaso sanitário?